Thursday, September 10, 2009

Capítulo 45

Sequer em seu pior pesadelo Jacó Simão havia visto figura tão medonha e de aspecto nefasto. As garras com dedos longilíneos eram repletas de rugas e assepcias. O fedor remetia a de um porco recém abatido, tal o odor de aparente necrose. E a fragilidade daquelas falanges escancarava que podia lhe quebrar o membro com um sopro. Quando, enfim, fitou o rosto do ser, Jacó Simão tremeu e por pouco não fez as necessidades em um espasmo de tensão. O pavor, todavia, travou completamente suas reações e, como se por hipnose, ficou embasbacado com o semblante da criatura. Lentamente, ela despejou sobre a cabeça do homem um líquido viscoso e ácido, tal qual pura âmonia. A nojenta mistura deu forças a Jacó Simão, que entendeu de imediato como sobrevivera àqueles dias sem comida. Eufórico, pôs-se de pé e pareceu um gigante diante do outrora monstrengo. Com um safanão, tirou o estranho de seu caminho - sentia a boca queimada pela sede - e jogou as fuças com todas as suas forças num charco pouco à frente. Saciado, limpou as vistas enquanto a água somente um pouco enlameada parava de chacoalhar. E o susto foi imediato: transformara-se num ser igual ao que lhe livrara as cordas e lhe dera a mistura suspeita. Agoniado, saiu saltando e urrando, mas em outra língua, sons que nunca seriam compreendidos na Cidadela, talvez causassem até mesmo horror, o mesmo horror que ele mesmo temia. Quis morrer, quis matar aquele que era seu semelhante agora. Mas por dentro, ele ainda permanecia Jacó Simão, portanto, resignou-se.

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