Monday, January 21, 2008

Capítulo 40

Jacó Simão acordou, mas não abriu os olhos de imediato. Sentia dores horrendas por todo o corpo, sentia medo de ver algum ferimento mais grave. Não se lembrava ao certo o que ocorrera, estava inerte e com tamanha fraqueza, que pouco podia desejar naquele momento. O forte calor, no entanto, o irritava, e a luminosidade fazia arder as vistas. Pensou alguns instantes, rememorou alguns de seus passos, e aí, sim, aos poucos abriu os olhos. Evitou olhar para si, mesmo por que, bem à sua frente corria um riacho, e seu primeiro impulso foi abrir a boca e esticar a língua, ainda deitado. Claro, não foi o suficiente para alcançar sequer uma gota d’água. Jacó, então, moveu um pouco o braço menos danificado pela queda e passou a mão suavemente pela película do charco. Antes de sugar as gotículas que se formavam em seus dedos enlameados olhou bem em volta, como se houvesse alguém ali capaz de roubar sua maior riqueza naquele momento. Era um belo lugar. Poderia passar o resto da vida ali, sem mais fardos, sem precisar voltar para casa, casa que nem mais considerava. A casa era esta, ali era onde gostaria de estar. Aí sim, menos desconfiado, sorveu com todo requinte necessário à ocasião a mistura de lama, água e um pouco de sangue seco. Juntos, constituíam um sabor refinado. Se sentido mais revigorado, Jacó tentou virar de barriga para cima. Duas, três, quatro vezes. Suas pernas doíam muito, um dos braços estava dormente. Enfim, agarrando-se a uma raiz, girou sobre o próprio tronco e pôs-se cara a cara com o sol. Deu um lar largo de altivo sorriso. Depois riu escandalosamente, pouco preocupado se despertaria a curiosidade de alguém ou de algo. Aí, chorou copiosamente, cravando as unhas firmemente na terra úmida. Riu e chorou assim até escurecer.

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